Sobre o Araçá

Desde 2015 gerando afetos e belas colheitas

Dia 15 de dezembro de 2020, o Grupo Araçá de Consumo Responsável completou cinco anos de atividades, celebrando a coletividade de mais de 300 famílias envolvidas nas atividades de produção e de consumo

Texto de Laís Haar, jornalista.

O contato com as práticas de Economia Solidária e o desejo de criar algo que atendesse as aspirações de cooperação e de abastecimento foram os ingredientes que fomentaram a criação do Araçá, um grupo de consumo responsável, nascido em Novo Hamburgo no ano de 2015 e hoje com raízes em São Leopoldo e Campo Bom.

Regina da Cooperativa Mundo Mais Limpo: oferece itens de limpeza desde os primeiros Ciclos de Pedidos do Araçá.

E porquê Araçá? O grupo começou sem um nome definido; apenas Grupo de Abastecimento e Consumo Responsável de Novo Hamburgo. Aproximadamente um ano após o início das atividades, surge a necessidade de dar um nome. O caminho foi encontrar algo abundante na região, algo nativo, que remetesse a memórias afetivas e que estivesse ao acesso de qualquer pessoa! Daí o Araçá, que “saborosamente” atendeu a todas estas condições!

Arroz agroecológico do MST: acesso a alimento saudável e apoio ao movimento social popular.

A ideia era organizar o abastecimento das casas com alimentos e outros itens direto de quem produz, tendo por inspiração as práticas de Economia Solidária baseadas na autogestão e trabalho em cooperação. Uma das demandas iniciais era ter acesso ao arroz agroecológico da COOPAN (Cooperativa Agropecuárias de Nova Santa Rita do Movimento de Trabalhadoras/es Sem Terra). Especialmente por este arroz ser plantado e colhido tão próximo, ser produzido a partir do trabalho associado, não conter veneno e ser fruto de um movimento social. A busca do arroz na COOPAN foi uma das tarefas que logo passou a ter rodízio, dando oportunidade a várias/os integrantes do Araçá de conhecer de perto o assentamento e sua estrutura.

Passo a passo

Em maio de 2015, “no balanço do trem vindo de Porto Alegre, Suzi Gutbier e eu decidimos criar uma comunidade no Cirandas.net e iniciarmos a organização de um Grupo de Consumo Responsável”, lembra Rosana Kirsch. A partir daquele instante, começaram a ser delineadas as formas de organizar o consumo, a identificação das/os primeiras/os produtoras/es, o primeiro pedido e diálogos sobre outras iniciativas de cooperativas de consumo que já haviam existido na região. Os diálogos com Telmo Adams, Cláudio e Lena Schaab foram muito importantes para perceber limites e possibilidades a partir de experiências que haviam participado nos anos 1990.

Oficina com Bem da Terra/ Pelotas: aprendendo com a experiência de outro Grupo de Consumo Responsável (10/2015).

No dia 15 de dezembro de 2015, junto com a Feira de Natal da Economia Solidária de Novo Hamburgo, foi realizada a entrega do primeiro Ciclo do Araçá, com gloriosos cinco pedidos! O primeiro Ciclo de Pedidos abasteceu as casas de Taize Peruzzo, Suziane e Carlos Gutbier, Neca Heckler, Rosana Kirsch e Tiago Eduardo Genehr, Cassiana Gorgen e Rodrigo Cypriano. Rodrigo foi o criador da logomarca do Araçá.

Mutirões: para o Araçá acontecer, muita gente trabalha antes, durante e depois dos mutirões do Ciclo de Pedidos.

A primeira sede do Araçá foi no bar Espaço Sideral, em Novo Hamburgo. Logo depois, passou para o Clube da Esquina e, na sequencia, para a Ocupação Cultural Casa da Praça, todos em Novo Hamburgo. No início, havia um núcleo em Lomba Grande, onde Carlos Gutbier levava para lá as compras do pessoal e as entregas aconteciam na Casa da Lomba.

Acolhida: momento de conhecer o Araçá e se integrar ao coletivo.

No ano de 2018, aconteceu a primeira Acolhida, atividade que recebe as/os novas/os integrantes e apresenta a dinâmica de funcionamento do Araçá. E no ano de 2019, foram criados os núcleos de São Leopoldo e de Campo Bom.

O movimento e a inclusão de novas pessoas ao coletivo foram sempre crescentes, uma dinâmica assegurada pelo uso de plataformas on line, desde o primeiro Ciclo.

Durante a pandemia do Covid19 mantivemos os ciclos, assegurando o abastecimento com cuidados necessários.

Reflexos de uma caminhada

Hoje, o Araçá se traduz num espaço coletivo de organização para o abastecimento dos lares da região, com produtoras/es do Vale do Sinos e complemento de itens orgânicos de outros territórios, como erva mate, farinha de trigo, café. Em média, atualmente estão reunidos em torno do coletivo cerca de 50 produtoras/es (coletivos, famílias e individuais) e cerca de 100 famílias consumidoras. Os produtos, que já somam mais de mil itens cadastrados, estão organizados por gêneros de Alimentação, Limpeza, Higiene e Artesanato.

Araçá e Feira Viva: duas ações que se encontram na Agroecologia e Economia Solidária.

Ainda no primeiro ano do Araçá, um novo coletivo brota: a Feira Viva! A Feira Viva tem sua própria trajetória e conta com muitas/os produtoras/es e consumidoras/es do Araçá na sua organização.

Além da sua dinâmica, o Araçá também compõe articulação de trocas de saberes e de produtos com outros coletivos, como a Feira Virtual Bem da Terra, de Pelotas/RS, e com a Red de Comércio Justo del Litoral, da Argentina. Nos anos de 2018 e 2019, essa interlocução possibilitou uma caravana para a Feira realizada pela Red na cidade de Rosário, na Argentina, com participações de produtoras/es na feira e com oficinas na programação do evento. Destacam-se, ainda, as relações de troca com dois importantes coletivos de certificação orgânica participativa – o Sinos e a Associação Ferrabrás.

Intercâmbio e articulações em Rosário/ Argentina: maio/2019

Com o caminho percorrido, participar do Araçá também passou a representar um jeito de ser, um jeito de pensar. Bandeiras sobre políticas públicas, necessidades de transformações estruturais da sociedade, e outras, se agregam ao grande grupo, como a própria ideia da economia solidária e o resgate do respeito ao meio ambiente, através do consumo e do cultivo de produtos agroecológicos, por exemplo.

Refletir sobre os passos dados e projetar os próximos: muitas atividades sobre Economia Solidária já foram realizadas.

Nesta linha, o Araçá participa da Rede Brasileira de Grupos de Consumo Responsável, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, da Campanha contra os Transgênicos e do Fórum Regional de Economia Solidária Vale do Sinos.

A migração do Araçá para uma nova plataforma, de software livre e com novos recursos, no segundo semestre de 2020, foi mais uma grande conquista, que fortalece e enaltece estes cinco anos de atividades.

I Assembleia do Araçá: inverno de 2016 na Casa da Lomba.